“Torna-te quem tu és”: A Autenticidade Como Ato de Resistência em Tempos Digitais

Nietzsche, como sempre, provocador e direto, nos deixa essa máxima: “Torna-te quem tu és!” Parece simples, não? Mas, cá entre nós, se fosse tão fácil, o mundo não estaria lotado de gente tentando caber em moldes pré-fabricados. A autenticidade, ao contrário do que o senso comum sugere, não é algo que nasce com você como um dom inato; é um trabalho árduo, quase como esculpir uma estátua de si mesmo, com a diferença de que, neste caso, o mármore sempre tenta resistir.

E por que é tão difícil ser autêntico? Talvez porque, como Freud nos lembrou, o “eu não é o senhor em sua própria casa.” Nossa psique, essa combinação caótica de desejos reprimidos, condicionamentos culturais e sonhos esquecidos, muitas vezes nos impede de ouvir aquela voz interna que poderia nos guiar para uma vida genuína. Adicione a isso o peso da história: séculos de tradições, moralidades herdadas e ideologias que nos moldaram mais do que gostamos de admitir. Não é à toa que Nietzsche, em sua genialidade irônica, viu a necessidade de reinventar os valores e exorcizar os fantasmas de uma moralidade caduca.

Agora, pensemos em como a escrita entra nessa equação. Desde que os primeiros humanos começaram a arranhar símbolos em pedra, escrever tem sido uma forma de gritar para o mundo: “Eu existo, eu penso, eu sou único.” Nietzsche sabia disso, por isso escreveu com a força de quem esperava que suas ideias fossem combatidas, incompreendidas e, ainda assim, não hesitou. Sua escrita é um tapa na cara da conformidade, um convite à reflexão e, acima de tudo, uma expressão de sua autenticidade.

Mas e hoje? O que acontece quando essa autenticidade precisa enfrentar um inimigo inesperado: o algoritmo? Vivemos em uma era em que as redes sociais nos oferecem moldes prontos de comportamento e opinião. Quer sucesso? Seja polido, previsível e publique algo que agrade ao rebanho. Quer ousar ser você mesmo? Prepare-se para o cancelamento ou, pior, para a indiferença. A autenticidade, que já era difícil no século XIX, hoje é quase um ato de heroísmo. Escrever algo genuíno em meio a posts patrocinados e vídeos curtos otimizados para engajamento parece, às vezes, tão inútil quanto sussurrar no meio de um tornado.

E, no entanto, é precisamente neste cenário que a autenticidade se torna ainda mais valiosa. Ser autêntico é, como diria Nietzsche, afirmar a vida em toda a sua complexidade e caos. É resistir à padronização e criar algo que carregue sua marca pessoal. A escrita continua sendo um espaço privilegiado para isso. Ao escrever, você não está apenas organizando palavras; está criando um reflexo de si mesmo, com todas as suas contradições, inseguranças e forças.

E aqui está a ironia final: talvez nunca sejamos totalmente autênticos. Afinal, o “eu” nunca está sozinho; ele é habitado por vozes do passado, desejos inconscientes e influências externas. Mas isso não significa que devemos desistir da tentativa. Escrever, então, torna-se um exercício existencial: um esforço para, mesmo no caos, deixar algo que seja inconfundivelmente seu.

Este texto é um convite para discutir a autenticidade em uma era que nos quer todos iguais. Afinal, se o desafio de “tornar-se quem você é” já era imenso no tempo de Nietzsche, no nosso, tornou-se praticamente uma declaração de guerra contra a massificação. Que bom! Até porque a autenticidade nunca foi para os fracos que “falam” baixinho.

Imagine Nietzsche em frente a um smartphone, deslizando o dedo no feed infinito do Instagram. Entre fotos de cafés perfeitos e caras com sorrisos pacíficos, frases motivacionais aparecem como promessas vazias de uma vida que ninguém realmente vive. Ele, provavelmente, largaria o telefone com um suspiro de exasperação, murmurando algo como: “Últimos homens…”. E não estaria errado. Em um mundo que celebra a uniformidade, a autenticidade tornou-se um ato de resistência. O convite de Nietzsche para “tornar-se quem você é” nunca foi tão desafiador – ou tão necessário.

As redes sociais, com seu apelo constante à validação, transformaram a autenticidade em uma batalha diária. Afinal, como ser genuíno em um espaço que promove comportamentos padronizados e recompensa o engajamento superficial? O algoritmo dita o que funciona: um sorriso calculado, um comentário otimizado para curtidas, uma vida cuidadosamente editada. Nesse cenário, o convite nietzschiano à autenticidade soa como uma provocação – um desafio para viver fora dos moldes, criar seu próprio caminho e resistir à tentação de se conformar ao que o rebanho espera.

Entretanto, ser autêntico nunca foi fácil, e talvez hoje seja mais difícil do que nunca. A coragem necessária para afirmar sua singularidade em meio à massificação digital é algo que Nietzsche compreenderia bem. Para ele, o indivíduo autêntico, aquele que se atreve a criar seus próprios valores, encarna o espírito do “Super-Homem”. Esse não é um ser perfeito, mas alguém que transcende a mediocridade do “último homem” – aquele que busca apenas conforto, segurança e aceitação. Em tempos de feed infinito e likes instantâneos, ser autêntico é um ato de coragem, e, em alguns casos, de loucura. Afinal, quem ousa ser diferente arrisca o julgamento, o isolamento e até o cancelamento, quem ousa falar de forma mais enfática, sem se preocupar com o que os outros vão pensar. Mas é exatamente nesse risco que reside o poder transformador da autenticidade.

A escrita, nesse contexto, emerge como um dos espaços mais preciosos para a expressão genuína. Nietzsche sabia disso e fez de sua obra uma martelada nos valores de sua época. Ele não escrevia para agradar, mas para provocar, questionar e desafiar. Suas palavras, carregadas de intensidade e originalidade, são um exemplo vivo de como a escrita pode ser um grito de autenticidade. Hoje, em meio ao caos digital, a escrita continua sendo uma forma de resistência. Quando colocamos nossas ideias no papel – ou na tela –, criamos algo que transcende a validação imediata, algo que é verdadeiramente nosso. Escrever, portanto, é mais do que um ato criativo; é um ato de liberdade.

No entanto, não podemos ignorar os desafios internos dessa busca. Freud, com sua leitura profunda do ser humano, nos lembra que “o eu não é o senhor em sua própria casa”. Nossa psique é um terreno de conflitos, onde desejos inconscientes e influências externas moldam nossas decisões. Nesse sentido, ser autêntico é um processo contínuo de luta contra essas forças internas e externas. Nietzsche e Freud, cada um à sua maneira, concordariam que a autenticidade é menos sobre alcançar um estado ideal e mais sobre travar uma batalha constante para afirmar sua singularidade em meio ao caos.

E o que dizer das redes sociais, esse novo palco para o “último homem”? Likes, seguidores e algoritmos criaram um rebanho digital onde a conformidade é a regra. Influenciadores surgem como líderes desse rebanho, promovendo uma vida polida e artificial, cuidadosamente editada para caber nos moldes esperados. Nietzsche certamente veria isso como uma manifestação moderna do conformismo que tanto criticava. Mas, mesmo nesse cenário, há espaço para a autenticidade. Cada vez que alguém ousa ser diferente, que compartilha algo verdadeiro e desconfortável, está resistindo a essa nova forma de padronização. Ser autêntico nas redes sociais é um ato revolucionário, uma declaração de que a singularidade ainda importa.

A autenticidade, mais do que um luxo filosófico, tornou-se uma necessidade no século XXI. Em um mundo saturado de padrões irreais e expectativas sufocantes, ser autêntico é essencial para nossa saúde mental, nossa criatividade e nossas relações significativas. Nietzsche sabia que viver de acordo com sua essência não era apenas uma escolha; era uma questão de sobrevivência emocional. E, hoje, isso é mais verdadeiro do que nunca.

No final das contas, talvez Nietzsche nos ofereça a resposta mais simples – e mais difícil: escreva. A escrita é, talvez, o último espaço de liberdade genuína. Quando escrevemos, criamos algo que transcende o efêmero, algo que reflete quem somos, em toda a nossa complexidade e contradição. Nietzsche fez isso, desafiando seu tempo e deixando um legado que continua a inspirar. Hoje, em um mundo que nos quer iguais, a escrita permanece um ato de resistência, um espaço onde podemos afirmar nossa autenticidade e, quem sabe, ajudar outros a encontrar a sua.

Então, aqui está o convite: escreva, não para agradar ou se adequar, mas para ser autêntico. Porque, como Nietzsche nos ensinou, a autenticidade nunca foi para os fracos – e, em tempos de massificação digital, é mais urgente do que nunca.


Já imaginou o que Nietzsche pensaria ao deslizar pelo feed do Instagram? Entre frases vazias e vidas editadas, ele provavelmente murmuraria algo como: “Últimos homens…” Mas, cá entre nós, será que estamos realmente tão longe disso? A autenticidade, esse ato quase heroico de “tornar-se quem você é”, nunca foi tão desafiadora.

Talvez seja hora de refletir: como resistir à padronização que nos cerca? E mais, como a escrita pode ser nossa arma para expressar o que realmente somos, em um mundo que valoriza o superficial? Se você já se perguntou isso – ou conhece alguém que também se sente preso entre o algoritmo e o que é genuíno – este texto pode ser o início de uma conversa que vale a pena.

Deixe sua visão nos comentários ou compartilhe com quem também acredita que ser autêntico é mais urgente do que nunca. Afinal, nunca sabemos quem pode estar precisando de um empurrão para se lembrar que o mármore da autenticidade, embora resistente, vale cada golpe do cinzel.


Referências Bibliográficas: 

NIETZSCHE, Friedrich. Para Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

FREUD, Sigmund. O Eu e o Id. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra: Um Livro para Todos e para Ninguém. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

FREUD, Sigmund. Mal-estar na Civilização. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

TAYLOR, Charles. A Ética da Autenticidade. Tradução de Alvaro Hattnher. São Paulo: É Realizações, 2011.

RÜSEN, Jörn. História Viva: Teoria da História III. Tradução de Estevão de Rezende Martins. Brasília: Editora da UnB, 2007.

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Meu nome é Luiz Mário F. Costa, e tenho a satisfação de compartilhar minha experiência e conhecimento com você. Sou historiador, com Mestrado e Doutorado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e um Pós-Doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Além disso, desenvolvi pesquisas na Universidade de Lisboa (UL) e na Universidade Católica Portuguesa (UCP). Minha área de investigação concentra-se na fascinante História da Escrita, onde tenho contribuído com dezenas de artigos científicos e livros de referência.

Soma-se a minha formação acadêmica, uma sólida base em Psicanálise Clínica pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (IBPC), o que me permite enriquecer minha abordagem e compreensão das nuances do processo de escrita. Como fundador da Coach em Escrita em 2019, tenho o prazer de liderar a mais completa Empresa de Serviços Redacionais.

Minha trajetória como pesquisador e escritor me proporcionou uma ampla visão sobre as demandas textuais acadêmicas e profissionais. Ao longo dos anos, desenvolvi uma metodologia exclusiva e eficiente para auxiliar os indivíduos em sua jornada de escrita. Com a Coach em Escrita, proporciono um suporte personalizado e orientação estratégica para cada demanda textual, desde concursos públicos e vestibulares até artigos científicos, relatórios, teses e livros.

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